𝐩𝐨𝐫 𝐋𝐞𝐨𝐧 𝐁𝐢𝐧𝐠.
Segunda, 20 de abril, 6.700 mortes somente na capital.
Ontem, Clarice e eu saímos pela primeira vez desde que nos hospedamos em Cuenca. Não posso negar que o que vimos foi, no mínimo, triste. Não somente pelo olhar de dor nos olhos das pessoas, mas a tensão no ar era muito pesada. Todos tinham ciência do que estava acontecendo, todos ouviam os noticiários sobre Guayaquil e até onde o descaso estava levando as pessoas. Descaso do governo do país, das autoridades — os casos estão duplicando a cada semana. Ninguém sabe o que vai acontecer.
Há dois dias nós conseguimos contato com a Embaixada Brasileira em Quito. Eles nos enviaram um e-mail de orientação, com informações sobre o que podemos fazer para retornar ao Brasil. Em alguns dias, a Embaixada irá nos enviar a permissão necessária para que possamos deixar o país e atravessar as fronteiras. Eles ainda pediram extremo cuidado e nos orientaram a entrar em contato com autoridades do Brasil para obter informações nossa passagem do Paraguai até o país, desde há risco da fronteira ser fechada em questão de pouco tempo.
Clarice e eu não perdemos tempo. Com ajuda da dona da pensão, dona Rose, dirigimos até o centro da cidade para o supermercado mais próximo. Se a permissão for emitida em alguns dias, queremos estar preparados para viajar o mais rápido possível. Compramos alimento (não perecível) para durar até nossa chegada ao Peru. Não sabemos ao certo nosso itinerário completo, então queremos estar prevenidos ao máximo.
No último post, eu prometi atualizações sobre meu relacionamento aparentemente em crise. Mas não há muito o que atualizar, de fato. Clarice e eu voltamos a conversar normalmente depois que eu tomei vergonha na cara e pedi desculpas. Ainda assim, ela continua estranha. Pior, a dona da pensão me olha torto toda vez que eu passo pelo corredor, como se eu tivesse agredido a avó dela. Urgh, mulheres.
Pela primeira vez desde que chegamos, as coisas parecem estar dando certo. Voltaremos ao Brasil em breve, veremos nossa família — mas nossa rotina está longe de voltar ao normal. Eu sei que o Brasil está se afundando devido a Covid-19, mas ainda é nosso país. É onde devemos ficar, perto das pessoas que nós amamos (aprecie meu sentimentalismo porque é a última vez que vocês verão, seus ridículos).
Volto com atualizações em breve. Minha esposa quer ajuda com as malas. Nos vemos em breve, Brasil.
Foto da minha esposa como recordação do nosso inferno pessoal.
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